quinta-feira, 10 de maio de 2012

QUEM DÁ LUZ À VIDA É A MÃE E NÃO DEUS



Aproxima-se o Dia das Mães. Data especial, comemorativa, cheia de emoções, sentimentos belos, confissões de amor. A ideia de comemorar um dia especial das mães surgiu nos Estados Unidos da América do Norte com o protagonismo de Anna Maria Jarvis (1864-1948). Espalhou-se pelo mundo. Coisa boa. Nem tudo que vem dos USA é ruim.
Há outra inspiração. E essa vem do filósofo grego Sócrates (470-399 a.C). Ele era filho de uma parteira chamada Fenarete. Vejam que coisa linda! Sócrates foi o responsável por estabelecer um dos maiores métodos filosófico do ocidente: a maiêutica, que significa dar à luz, parir. Assim como a parteira ajudava as mães a darem à luz, o filósofo seria um parteiro de ideias. Na base do método filosófico de Sócrates está a mãe. É ela que gera, gesta e trás ao mundo a vida.
O Dia das Mães deve ser um dia para celebrar a luz que recebemos para a vida. Em muitas tradições filosóficas as mães são honradas com essa dádiva. E assim deve ser. Nós não seríamos nada sem nossas mães. A psicanálise afirma que é no ventre materno que recebemos parte do fundamento psíquico para toda a vida.
A tradição mitológica brasileira cantata em verso e prosa pela gente caipira também sabe afirmar esse valor: “... e o olhar da minha mãe na porta, eu deixei chorando a me abençoar...”
Homenageemos, pois, nossas mães com esse tributo. Reconheçamos essa dádiva, esse milagre, esse dom que recebemos com presente. Infelizmente muitas culturas, sociedades e civilizações insistem em oprimir as mulheres. A avalanche de opressão sobre o feminino é muito forte. E não há, em muitos casos, reconhecimento social e público daquilo que elas fazem na vida privada, desde o leito do hospital ou do catre de um casebre.
Comemoremos o DIA DAS MÃES reconhecendo que sem elas o mundo jazeria num abismo de trevas. Elas nos trouxeram a luz, nos dão a luz todos os dias das nossas vidas, iluminam os nossos passos, enchem de calor nossos corações com as palavras ternas do nosso cotidiano. Essa é a razão porque são abençoadas por Deus.
Luiz Longuini Neto. Teólogo e Filósofo.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A QUARESMA E O NOVO NASCIMENTO

A QUARESMA E O NOVO NASCIMENTO
Evangelho de João 3.1-15

            Nicodemos era mestre em Israel e não compreendia as palavras de Jesus. O tempo da Quaresma, que deve ser um tempo de arrependimento e oração, também não é compreendido pela nossa sociedade que se apresenta como "emancipada" e secularizada.
            O novo nascimento é um dom de Deus.
            Pertencer a esta ou aquela Igreja, participar da vida institucional do povo de Deus, ser extremamente ativo na vida eclesial, ter cargos na administração da Igreja, etc.. não garante que tenhamos nascido de novo. O novo nascimento é algo que acontece em nossa vida pela graça e pela misericórdia de Deus, não é algo que nós queremos ou merecemos. Na Quaresma vivenciamos este dom de Deus de maneira mais intensa, sempre reconhecendo que Deus é o autor da nossa salvação.
            O novo nascimento faz com que tenhamos novos valores: o Reino de Deus.
            É muito fácil saber se uma pessoa já experimentou a graça do novo nascimento. É só observar os valores que a pessoa cultiva em sua vida. Os valores do Reino de Deus são completamente opostos aos valores da nossa sociedade. No Reino de Deus têm valor todos aqueles que a sociedade despreza e marginaliza. Vaidade, corrupção, mentira, ódio, difamação, arrogância, etc., são valores que não fazem parte da vida de  uma pessoa nascida de novo.
            O novo nascimento nos coloca em confronto com a nossa religiosidade.
            Nicodemos era religioso, no entanto, Jesus chamou sua atenção para o fato de que o que é nascido da carne é carne, mas o que é nascido da água e do Espírito esse sim pode entrar no Reino de Deus.
            É lamentável perceber que nossas Igrejas estão repletas de pessoas, muitas até extremamente ativas, mas que não experimentaram o novo nascimento. A religiosidade vivida sem a experiência do novo nascimento é uma religiosidade hipócrita e cheia de rancor, a pessoa que assim vive, não respeita e não ama seu próximo e ao invés de semear amor e concórdia na comunidade espalha ódio e contenda. A pessoa que age assim só pensa em seus interesses e na sua vaidade pessoal. É preciso que haja arrependimento e conversão.
            A Quaresma, portanto, é um período em que devemos buscar a conversão constante. Com arrependimento e fé vamos partilhar hoje o sacramento da Santa Ceia, na esperança de que haja sempre um novo nascimento em nossas vidas.

            Rev. Luiz Longuini Neto

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

AS BADALADAS DO SINO LEMBRAM-ME A DOR DA EXISTÊNCIA E A LOUCURA DA CURA


Pro Humberto irmão, amigo, educador, sambista, gente boa e que gostava da boa vida, partiu sem fazer alarde na fria madrugada  petropolitana no último 30 de maio.
José Saramago tem um belíssimo conto em que fala da aldeia aonde nasceu e viveu parte de sua vida. Lá o cotidiano era marcado pelas badaladas do grande sino que ficava na torre da igreja. Se alguém nascia o sino tocava, se alguém morria o sino tocava. Quando o padre chegava o sino tocava. Quando o juiz chegava o sino tocava. No conto ele faz a relação entre as badaladas do sino e a proclamação da justiça com a chegada do juiz.
Nasci em uma fazenda cafeeira no interior de São Paulo, a fazenda Boa Vista. Lá o cotidiano também era marcado pelas badaladas do sino que era tocado impreterivelmente pela minha avó. A primeira chamada se dava às quatro da manhã. A fazenda começava a viver. O mugido do gado. A arruaça na cocheira. A ordenha. O cheiro de polenta frita. As seis a fazenda se refazia em outro ritmo. Carroças rumo ao eito. Enxadas nas costas. Gado no pasto. Colheita de frutas e verduras. Assim o dia prosseguia. E minha avó administrava a fazenda de dentro da grande cozinha. Ali tudo acontecia. Ali todas as ordens eram dadas. Ali todos se alimentavam, comida para o corpo e para a alma.
Cresci acostumado a ouvir os sinos que badalavam para me alertar sobre a vida e os grandes sinais que ela nos dá. Sinos de catedrais, de capelas, de castelos, de hospitais, de escolas, de igrejas. Assim como cantou Milton Nascimento: “A igreja está chamando os seus fiéis, para louvar o seu Senhor, para cantar ressurreição. Navegar, naveguei no mar do Senhor. Lá eu vi a fé e a paixão, lá eu vi a agonia na barca dos homens”.
Mas descobri com muita luta e sofrimento que mais importante do que ouvir os sinos que soam fora de mim é ouvir os que ecoam dentro de mim. Descobri que a mais fascinante, fantástica, maravilhosa e mística experiência é conseguir ouvir o sino que soa dentro de nós e ouvir as suas badaladas é ouvir o som que existe em nosso coração.
No dia 30 de maio foi meu aniversário. Iniciei o dia com o carinho da esposa, presente, café da manhã e o consolo através da declaração de que eu estava ficando mais sábio. Na metade da manhã fui surpreendido com a notícia do falecimento de um grande amigo: Humberto. Almocei na escola e emocionado recebi o carinho dos alunos e professores pelo meu aniversário. Em seguida rumei para Petrópolis e presidi o funeral do amigo. Mergulhei num oceano de emoção entre professores, alunos e alunas, familiares, todos prestando a sua homenagem ao grande educador e mestre. Voltei e continuei recebendo as homenagens de alunos, professores e amigos. Comemorei meu aniversário sangrando por dentro. Alegre e emocionado, mas querendo chorar o tempo todo a perda do amigo que sem fazer alarde saiu fora do combinado e seu tamborim não mais seria ouvido pelos foliões do Simpatia é Quase Amor.
 Parei para ouvir as badaladas do meu coração. E encontrei a solidariedade no sofrimento de Jó. Ele viveu há muito tempo antes da nossa época. Possuía tudo. Era rico, tinha família e saboreava a vida junto com seus sete filhos e três filhas. Possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas. Dele se afirma: “era o maior homem de todos os do Oriente.” A história de Jó narrada na Bíblia Sagrada mostra um ser humano que recebeu uma das mais violentas provações. Perdeu os filhos, empregados e todos os bens materiais. Como se não bastasse foi acometido de séria enfermidade, ficou com o corpo ferido de tumores malignos, desde a planta do pé até o alto da cabeça. A dor era tanta que ele se raspava com um caco de telha.
Lembrei-me também das palavras de sua Santidade o Dalai Lama: “vocês da cultura ocidental passam metade da vida ganhando dinheiro para viver, depois passam a outra metade gastando o dinheiro com as enfermidades que adquiriram trabalhando. Morrem como se nunca tivessem vivido e vivem como se nunca fossem morrer”.
Como pastor recebo todos os dias um questionamento: por que sofremos? O questionamento torna-se mais forte quando achamos que as pessoas são boas e não devem sofrer. Por que uma criança sofre? Ser pastor me faz perambular por hospitais, cemitérios, casebres e mansões.  Eu não tenho resposta para o sofrimento. Apenas digo que sofrer faz parte da existência humana. É nossa limitação humana sofrer. Mas também afirmo que podemos optar pela maneira como sofremos. Jó após a sua grande tribulação disse: “eu te conhecia só de ouvir, agora os meus olhos te veem. ”
O sofrimento humano são as badaladas do sino da existência que nos fazem lembrar o que somos. E nos fazem sentir uma saudade imensa de um local onde nunca estivemos. Então temos a convicção que naquele lugar encontraremos tudo, inclusive nós mesmos. Os nossos olhos contemplarão aquilo de que um dia ouvimos falar, mas as batidas cadenciadas dos nossos corações nos darão a certeza de que um dia já sentimos esse pulsar tão forte e vamos afirmar como o paciente Jó. Eu agora além de ouvir, estou vendo. Então tudo o que era loucura se tornou cura.
 Luiz Longuini Neto
Maio/agosto2011.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A PEDAGOGIA DA INCLUSÃO

A PEDAGOGIA DA INCLUSÃO
(anotações religiosas sobre a religiosidade de Jesus)
Evangelho de Mateus 15. 21-17
O diálogo de Jesus com a mulher cananéia (que o evangelista não achou digna nem de receber o nome no evangelho)  é registrado entre o confronto dos escribas e fariseus com Jesus, inicio do capitulo 15, e os milagres que Jesus fazia (mudos falavam, aleijados recobravam saúde, coxos andavam e cegos viam) e a multiplicação dos pães. Todo este capítulo é uma grande lição sobre a maneira como Jesus vive e apresenta a nova religião, diante de uma religião morta e opressora. Jesus faz um libelo à inclusão de todos os que estavam fora da sociedade religiosa da época e, portanto, fora do Reino de Deus.
A superação da infidelidade
A acusação dos fariseus e escribas era que Jesus e seus discípulos não eram fiéis à tradição dos anciãos. “Eles não lavam as mãos quando comem”. De igual sorte os discípulos de Jesus quando viram uma mulher que estava pedindo a cura para sua filha disseram: “Despede-á, pois vem clamando atrás de nós.” Essa belíssima cena narrada por Mateus nos faz perguntar: quem de fato era infiel? Jesus diz que havia sido enviado para as ovelhas perdidas da casa de Israel. A ovelha perdida (infiel) não era a mulher cananéia, pois ela nem era da casa de Israel. A religiosidade de Jesus nos leva a superar a nossa infedilidade, mesmo quando achamos que somos fiéis e acusamos os outros de infidelidade. Esse ato faz com que o infiel seja incluído novamente no Reino de Deus.
A superação da incredulidade
A religiosidade de Jesus faz com que os escribas e farizeus sejam questionados num dos pontos centrais da sua crença. Eles perguntaram pela lavagem das mãos e Jesus sabiamente responde: “ Porque transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?” No diálogo de Jesus com a mulher cananéia está evidente que Jesus faz um questionamento não sobre a crença da mulher, mas sobre a crença dos discípulos. “Não é bom tomar o pão dos filhos e lança-los aos cachorrinhos.” Jesus espera uma resposta dos crentes que estão ao seu lado há muito tempo. Eles não sabem o que dizer porque não compreendem a pedagogia da inclusão de Jesus. A mulher cananéia responde corretamente e nessa resposta temos a superação da incredulidade. Tanto Jesus como os discípulos e também os escribas e fariseus são evangelizados pela mulher estrangeira.
A superação da marginalidade
“ Os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”. Essa afirmação é profunda. Aquela mulher estrangeira inclui todos os que não são da fé de Israel (os cachorrinhos)  como possíveis recebedores das migalhas (o evangelho). Percebam que a mesa é do dono (Deus) que mediante Jesus permitiu que as migalhas fossem distribuídas a todos os gentios. Essa grande lição está concretizada no final do capítulo. Houve pão para todos os famintos (não as migalhas, mas pão) não mais os restos de uma religião farisaica e hipócrita, que distribuía as bênçãos para aqueles que ficavam marginalizados ao redor do templo, mas os filhos de Deus recebem agora o pão da vida. A religiosidade de Jesus rompe com a marginalidade e inclui todos no Reino de Deus.
Rev. Luiz Longuini Neto

segunda-feira, 23 de maio de 2011

ESPIRITUALIDADE CAIPIRA

....como eu não sei rezar...só queria mostrar meu olhar....
A espiritualidade é algo tão rico que nem carece de adjetivos e explicações. No entanto é sempre muito difícil falar desse trem sem buscar apoio em outros recursos. Talvez não seja muito fácil, porque a espiritualidade é como a vida, ou melhor, é a própria vida. A palavra grega pneuma significa vento, sopro. Então pode ser o sopro da vida. Tudo que tem vida tem espírito toda physis (natureza que inclui o ser humano, os animais, as plantas).
Tradicionalmente nos acostumamos a relacionar espiritualidade com religiosidade, ou com as coisas que dizíamos ser do espírito, deixando de lado as coisas materiais. Essa visão tradicional nos levou a escolher lugares privilegiados, ações específicas, pessoas separadas, com íntima relação com o espírito, e do outro lado todos os que estavam fora dessa relação “sagrada”.
Depois dessa longa caminhada e de ensinamentos de grandes mestres, doutrinas e escolas filosóficas que perpassaram épocas e mundos distintos: Vedas, Moisés, Buda, Platão, Jesus, Paulo, Santo Agostinho, Tomas de Aquino, São João da Cruz, São Jerônimo, Santa Tereza D´Ávila, Avicena, Gandhi, Martin Luther King, Madre Tereza, Padre Cícero, Antônio Conselheiro, Freud, Kardec, Chico Xavier, Mestre Gabriel, Guru Dev, Rubem Alves, Leonardo Boff, Edgard Morin, dentre tantos e tantas. A espiritualidade toma outro rumo de compreensão.
A saga narrada por Renato Teixeira na música Romaria pode nos ajudar a compreender uma das muitas faces que a espiritualidade possui. Os dramas da existência nos ajudam a perceber o sopro da espiritualidade quando ela “ilumina a mina escura e funda, esse trem que é a minha vida.”  A busca que todo ser humano empreende durante a sua existência é sempre a profunda busca pela espiritualidade, dimensão última da existência como afirmou o filósofo alemão Martin Heidegger: “o ser humano é um ser para a morte”. A morte de que fala Heidegger não é a morte final, mas a morte como concretização da espiritualidade, a morte como emancipação e autenticidade última da existência. Afinal a mitologia hebraica afirmava isso: viemos do pó e para viver tivemos o sopro da vida, voltaremos ao pó, e seremos recolhidos pelo eterno sopro da nossa existência.
Assim nessa busca que não cessa podemos encontrar as muitas emoções da espiritualidade. Vamos ouvindo por todos os lados que devemos fazer isso ou aquilo. Acender velas, acreditar em anjos, frequentar igrejas, incensar a casa e a vida, benzimentos, cultos, rezas, sessões, esmolas, peregrinações, romarias, orações. Tudo pode ter o seu lugar e cada um sabe a dor e a alegria de ser aquilo que é como afirma Caetano. Mas há um elemento primordial nessa busca. Quando todos falam o que a gente deve fazer: “me disseram porem, que eu viesse aqui, pra pedir em romaria e prece, paz nos desalentos.” A nossa alma suspira como a corça sedenta pela fonte de água. Desejar a espiritualidade e paz nos desalentos faz parte da nossa existência e não há vergonha em desejar ou em viver essa busca incessante. Mas há algo que pode provocar o milagre que transforma a nossa vida e nos faz ter um encontro com o sublime. E ao final nos sentimos plenos, quase satisfeitos: COMO EU NÃO SEI REZAR, SÓ QUERIA MOSTRAR MEU OLHAR, MEU OLHAR, MEU OLHAR.  A espiritualidade é o encontro do nosso olhar com o olhar do outro, do nosso olhar com o olhar de tudo aquilo que confessamos entre suspiros e gemidos e pronunciamos bem devagar:
D E U S.


sexta-feira, 13 de maio de 2011

EU MATEI BARACK OBAMA

Cursei teologia numa escola com forte influência norte americana. O pano de fundo histórico da igreja a que eu pertencia, lá no interior paulista, era formado pela ação de missionários norte americanos que aportaram em terras brasileiras pelos idos de 1860.
Fui formado teologicamente para entender que os Estados Unidos da América do Norte tinham uma missão importante no mundo. Salvar não só as almas dos pobres pecadores do terceiro mundo, como também levar os valores da democracia, liberdade, livre iniciativa a todos os povos atrasados.
O nome bonito que os professores davam a essa missão era “Destino Manifesto”. Essa missão havia sido pactuada entre os “pais peregrinos”, aquela mistura de gente anglo-saxã, que fugindo das guerras inglesas navegaram para a “nova Inglaterra” num barco chamado Mayflower. No meio de uma tempestade, com a bíblia no meio do barco e todos ajoelhados fizeram um pacto: se Deus os levassem com vida à terra firme eles constituíram uma nação cujos valores estariam assentados na Bíblia Sagrada. Esse pacto e a doutrina do “Destino Manifesto” forjaram as lutas daquele povo, em especial das 13 colônias, e desde 1776, quando foi promulgada a declaração de independência dos EUA, fazem parte do ideário ou da mentalidade de cada cidadão norte americano.
O mais interessante é que 235 anos depois essa mentalidade nada mudou. Foi esse ideário que levou os norte americanos à marcha para o oeste em busca de ouro e terras. Mataram índios, dizimaram famílias. O símbolo de resistência dessa colonização foi Gerônimo (1829-1909) um índio apache que primeiro lutou contra os mexicanos e depois contra as tropas do governo norte americano. Foi preso como “índio renegado” e após 22 anos na prisão foi morto.
Essa mesma mentalidade sedimentou a escravidão dos negros africanos, ancestrais do atual presidente Barack Obama, ancestrais apenas na cor da pele. Foi a mentalidade que forjou as teorias e as ações racistas da Ku Klux Klan. Perseguiu, torturou, matou, queimou igrejas, estuprou negras escravas.
Quando Barack Obama foi eleito presidente dos EUA fiquei feliz, fiz um sermão, escrevi artigos. Tentei não ser ingênuo e afirmei que apesar de tudo ele era norte americano, mas um negro como presidente. Puxa!!! Isso me remetia ao pastor Martin Luther King Jr., Malcon X, aos índios espoliados e mortos pelos brancos sanguinários, aos negros escravizados e que só haviam conseguido seus direitos civis após muitas lutas e muitas mortes.
A operação secreta que matou Osama Bin Laden recebeu o codinome de Gerônimo. Que desrespeito contra o líder de um povo bravio. As nações indígenas orgulham-se de seus líderes e elas tem muito a nos ensinar. A morte de Bin Laden, como foi noticiada, a covardia do ataque, o sequestro do corpo, o desrespeito às normas internacionais. Não quero afirmar ou defender nenhum ato terrorista, venha de onde vier. Tudo isso mostra que Barack Obama é o mesmo e reflete a mesma mentalidade de 235 anos atrás. A cor da sua pele não significa nada. Por baixo da pele negra existe um WASP (anglo saxão, branco e protestante), cuja meta exclusiva na vida é seguir o pacto do Mayflower e o Destino Manifesto, como a grande nação que é o xerife do mundo. O espetáculo produzido por esse “presidente” serviu para levar boa parte da nação que foi erigida sob os valores da Bíblia Sagrada a dançar, pular, gritar nas ruas e se alegrar com a morte de pessoas. Assim como fizeram no passado massacrando os índios e os negros.
Ontem eu fui dormir lendo “A Interpretação dos Sonhos” de Sigmund Freud, volume 1º. Estava impressionado com todas as informações dos jornais e com a leitura. Acordei um pouco assustado. Sonhei. É tive um sonho. E no sonho matei Barack Obama.

sábado, 7 de maio de 2011

MÃES DESCONHECIDAS CUJAS MÃOS SUSTENTAM NOSSAS VIDAS


...está ai um menino que trouxe um lanche, cinco pães de cevada e dois peixinhos...

Madres de la Plaza de Mayo. Mães da Candelária. Mães de Acari. Movimentos sociais que se tornaram conhecidos em todo o mundo. Mães que lutaram e lutam por justiça, lutam por amor aos filhos que foram covardemente torturados e chacinados.
Na cozinha da nossa casa lá no interior paulista eu ficava admirando a minha mãe. O fogão de lenha, a chaleira, os panos de chita coloridos que tapavam os buracos na parede para estancar o frio. O café quente, o leite fervendo. No rádio do pai todos os dias depois da Ave Maria das seis da tarde o programa Na Beira da Tuia, com Tonico e Tinoco. E uma das músicas guardadas nas memórias da infância fala da Mulher do Carreiro. Após a morte do marido, que ganhava a vida tocando carro de boi, a esposa torna-se a primeira mulher que carreou no sertão. Assim diz a última estrofe:Minha mãe foi pioneira, foi a primeira carreira, que no sertão carreou. Depois que meu pai se foi, com o seu carro de boi, todos filhos ela criou.”
Renato Teixeira na sua música Sina de Peão faz uma declaração emocionante: “uma cegueira triste, certo dia, nos olhos calmos do meu pai entrou. Varreu as cores do seu pensamento, ele deitou na cama nunca mais falou. A minha mãe mulher de raça forte, pegou as rédeas com as duas mãos. Eu enterrei minha alma na viola, plantei poesias e colhi canções.”
Mães da Plaza de Mayo, Mães da Candelária, Mães de Acari, Mulher do Carrero, Mulher de raça forte. Mulheres valentes cujas mãos desconhecidas embalam as nossas vidas.
Saulo de Tarso transformado no Apóstolo Paulo, o maior apóstolo da cristandade, quando escreveu a sua mais importante carta, talvez o maior tratado teológico no novo testamento, a carta aos romanos, com o intuito de fazê-la circular pelas igrejas cristãs primitivas, recomendou o seu cuidado não a um apóstolo e a nenhum líder homem da igreja nascente. Entregou o maior tesouro do novo testamento às mãos de uma mulher: FEBE, diaconisa da igreja de Cencréia, que era protetora de muitos e de mim também, declarou o apóstolo.
Quando um jovem maluco de cabelo comprido, sandálias nos pés, queimado de sol, meio revolucionário e meio filósofo, meio líder religioso e meio reformador social, andava pela Palestina, cercado de prostitutas, gente pobre, pescadores fedidos, houve um evento interessante, que muitos retrataram como um milagre. A multidão estava com fome e não havia comida para todos. Os apóstolos alertaram o mestre que havia um menino entre o povo com um pequeno lanche, pão e peixe. Aquele jovem meio maluco pediu o lanche e começou a repartir, houve pão e peixe para todos, muita comida, alguns trouxeram vinho e chamaram o sanfoneiro que morava em Emaús. A festa foi grande, comeram, beberam e bailaram até o amanhecer. Ainda sobrou muita comida.
No outro dia Jesus Cristo reuniu todo o povo e pediu que todos agradecessem a mãe daquele menino. Ela nem estava lá e a Bíblia nem fala seu nome. Jesus Cristo disse que muitas mulheres eram mães desconhecidas e que mesmo assim, estavam cuidando das nossas vidas. Ele disse que o menino ali estava porque havia sido educado para ouvir coisas importantes. O menino tinha vigor físico para caminhar junto com o povo. O lanche que trouxe era especial, sim, de família pobre, pão de cevada, comida de pobre e não de trigo, comida de rico, dois peixinhos, também comida de pobres pescadores. Mas o peixe que trazia não era comum, Jesus disse que era um “cozido de peixes”, ou seja, a mãe havia pensado em preparar o lanche para o filho que sairia em viagem.  Aquela mãe desconhecida também havia ensinado seu filho a repartir dos seus bens, compartilhar com os outros famintos o pouco que ele tinha, porque de acordo com os valores do reino de Deus, o pouco que é repartido torna-se um grande milagre. No segundo domingo de maio homenageamos as nossas mães. Que esse seja um dia de profunda gratidão por essas valentes e valorosas mulheres, as que conhecemos e as que não conhecemos. Porque mesmo desconhecidas elas protegem e embalam as nossas vidas.
Luiz Longuini Neto
06/05/2011