segunda-feira, 2 de maio de 2011

TODA MEMÓRIA É SUBVERSIVA

TODA MEMÓRIA É SUBVERSIVA
....em busca da afirmação ontológica da escola SESC de ensino médio....
Pro Antonio Henrique (guardião da memória eseniana)
Andava apressado pelo corredor da ala das coordenações e um grupo de alunas estava apavorado. Disserem: - Longuini o que é isso que vamos fazer na médica: anamenese. Seria o encontro com a Dra. Ana? A palavra grega para memória é meneme, de onde vem a palavra menesis. Daí o significado de anamenese, isto é, quando vamos ao médico, por exemplo, fazemos um resgate da nossa história médica. De fato a palavra quer dizer trazer à memória novamente. A preposição grega “ana” significa novamente, por exemplo, anabatismo, os que batizam novamente. Também é conhecido o fato de alguém que fica com amnésia. O prefixo “a” significa “sem”, ou “não”, ou seja, a pessoa que perdeu a memória.
Nunca tivemos tanta preocupação com a memória, ou com a falta dela. O mal de Alzheimer alertou o mundo. Livros e filmes como Diário de uma Paixão de Nicholas Sparks, com mais de 12 milhões vendidos, chamam nossa atenção para o drama vivido por inúmeras famílias, pessoas que se amam, passaram quase uma existência juntos, e que de repente, não se reconhecem mais. A falta da memória faz com que filhos, pais, esposos e esposas tornem-se estranhos para si mesmos. Perder a memória, nesses casos, é perder a existência, não a existência do estar ali, corporalmente, mas é perder a consciência de si. O esquecimento de tudo e daquilo que verdadeiramente são provoca uma angústia existencial que se expressa em terríveis medos, delírios e alucinantes gritos.
A memória serve para muita coisa, e pode não servir para nada, apenas serve para nos falar, bem baixinho, aquilo que somos. Serve para sussurrar à nossa consciência na calada da noite as desgraças da vida. Serve para nos alertar, nas insônias da madrugada, de tudo que um dia desejamos e não conseguimos. Serve para nos despertar, com o simples cheiro de polenta cozida e ovo frito dos sabores e cores da infância. Serve para sentir, mesmo que ausente, o cheiro da pessoa amada, e sentir o corpo tremer entre os lençóis.
Numa das maiores encruzilhadas da história um jovem líder chamado Jesus Cristo estava prestes a ser assassinado. Reuniu as amigas e os amigos mais próximos e no meio de uma festa partilhou com eles pão e  vinho e disse que aquilo simbolizava a sua morte. Eles deviam repetir aquele jantar como lembrança: “ fazei isto em memória de mim”. Após mais de 2000 anos da sua morte os cristãos do mundo todo em todos os domingos recuperavam de maneira subversiva essa história fazendo a anamenese daquele momento, celebram a eucaristia.
A nossa querida ESEM empreende com bravura e tenacidade um projeto do seu Centro de Memória: preservar, lembrar, guardar, escrever, fotografar, falar, recordar, registrar, subverter. Sim a memória sempre irá subverter porque ela vai apresentar a sub-versão, a versão que está por baixo, ou a outra versão. Toda anamense é sempre outra versão.
A ESEM ao fazer isso está afirmando-se ontologicamente, afirma seu ser, busca seu ser e quer mais que recordar. Deseja registrar tudo que faz parte do seu multicolorido, multifacético e idiossincrático ser. Assim o faz porque deseja evitar o alzheimer institucional. Deseja evitar a falta da memória que fatalmente nos levará ao desesperador encontro com o esquecimento, a falta de consciência e memória histórica do nosso não ser.
Luiz Longuini Neto
Professor de Filosofia.

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